Fase crítica de incêndios termina com 100 mil hectares queimados e seis mortos

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O incêndio foi detectado pelas 15h30, no sítio da Alegria, nas zonas altas do concelho do Funchal Adriano Miranda

A época mais crítica em incêndios florestais acaba no domingo, com cerca de 100 mil hectares de floresta queimada e seis mortos, quatro dos quais bombeiros. O número de detidos por suspeitas de fogo posto duplicou este ano.

Durante a fase “Charlie” de combate a incêndios florestais, que começou a 1 de Julho, estiveram no terreno 44 meios aéreos, 2248 equipas de diferentes forças envolvidas, 1982 viaturas e 9324 operacionais.

Os mais de nove mil elementos pertencem aos corpos de bombeiros, GNR, PSP, Força Especial de Bombeiros “Canarinhos” da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e Afocelca (agrupamento de empresas para a protecção contra incêndios).

Dados provisórios do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) indicam que a área ardida mais do que duplicou este ano em relação ao mesmo período de 2011, tendo os incêndios florestais consumido até 15 de Setembro 98.698 hectares.

Área ardida aumentou 130%

Em relação ao mesmo período do ano passado, os incêndios florestais aumentaram um quarto e a área ardida aumentou 130%. Entre Janeiro e 15 de Setembro de 2011 registaram-se 15.730 fogos e 42.756 hectares de área ardida.

O maior fogo deste ano deflagrou em Julho, na Serra do Caldeirão, no Algarve, entre os concelhos de Tavira e São Brás de Alportel, tendo queimado 21.437 hectares de espaços florestais, cerca de 22% da área florestal ardida este ano.

Este incêndio provocou várias críticas à forma como os meios de combate actuaram, o que levou o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, a pedir um relatório à Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), que reconheceu “debilidade na coordenação ou no comando”.

Após o relatório da ANPC, Miguel Macedo determinou uma avaliação aos incêndios que lavraram no Algarve a uma entidade independente, trabalho coordenado pelo investigador e docente da Universidade de Coimbra Domingos Xavier Viegas, que vai entregar o relatório ao ministro na segunda-feira.

Quatro bombeiros perderam a vida

Devido ao elevado número de incêndios, durante a primeira semana de Setembro foi activado o Mecanismo Europeu de Protecção Civil que permitiu a actuação em Portugal de dois aviões ‘Cannadair’ franceses e outros dois espanhóis.

Também no início de Setembro, um helicóptero Kamov da frota da Empresa de Meios Aéreos (EMA) teve um acidente quando estava a combater um incêndio no concelho de Ourém, que provocou dois feridos.

Na sequência das investigações deste acidente, os helicópteros Kamov tiveram de cessar imediatamente todas as operações de voo, a pedido da empresa que assegura a manutenção dos aparelhos.

Desde 21 de Setembro que o combate aos incêndios florestais foi assegurado por 38 meios aéreos, sendo três da EMA e os restantes alugados para a época mais crítica de combate a fogos.

Segundo a ANPC, seis pessoas morreram este ano no combate aos incêndios florestais, entre os quais quatro bombeiros, um elemento que pertencia ao Grupo de Intervenção Protecção e Socorro (GIPS) da GNR e um civil.

A fase “Delta” de combate a incêndios florestais começa na segunda-feira e prolonga-se até ao dia 31 de Outubro, com uma diminuição do número de meios operacionais. Passam a estar no terreno 5363 elementos, 1289 veículos e 22 meios aéreos, estes últimos até 15 de Outubro.

Detenções duplicaram

A Polícia Judiciária (PJ) deteve este ano 57 pessoas pelo crime de incêndio florestal, detenções que duplicaram em relação a 2011. Segundo a PJ, 17 dos 57 detidos até sexta-feira ficaram em prisão preventiva.

O director da PJ de Coimbra, Rui Almeida, disse à Lusa que a taxa de aplicação da prisão preventiva costuma rondar os 40 a 5%, mas este ano esta medida de caução ficou abaixo dessa média.

Rui Almeida adiantou que, dos 57 detidos, 21 ficaram sujeitos a apresentações periódicas às autoridades, três a internamento hospitalar e dois a prisão domiciliária com vigilância eletrónica.

O responsável disse também que os dados provisórios deste ano indicam que 14% dos detidos por fogo posto têm antecedentes criminais.

Rui Almeida justifica a duplicação das detenções este ano em relação a 2011 com o maior número de incêndios, tendo os detidos passado de 28 para 57.

O maior número de detenções foi efetuado na unidade local da PJ de Vila Real e nas diretorias do norte e centro, que detiveram 35 pessoas, correspondendo às zonas do país onde há mais incêndios, afirmou.

Segundo a PJ, os principais motivos para os incendiários atearem o fogo são o alcoolismo, motivos fúteis, perturbações psicológicas e vinganças.

Ressalvando que a PJ apenas actua quando há indícios de fogo posto, Rui Almeida afirmou que a maioria dos incêndios é provocada por negligência (entre 60 a 65%) e cerca de 20% são intencionais.

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