Ex-céptico das alterações climáticas diz agora que estava errado

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O estudo concluiu que as emissões de dióxido de carbono explicam as oscilações de temperatura Siphiwe Sibeko/Reuters

“Chamem-me um céptico convertido”, escreve o físico norte-americano Richard Muller, num artigo de opinião no New York Times. Este cientista diz agora, à luz de um novo estudo, que estava errado e que as alterações climáticas são mesmo causadas pelos humanos.

Muller é professor de Física na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e coordena o projecto Berkeley Earth, que utiliza novas metodologias para investigar as conclusões de outros cientistas do clima. O projecto é financiado por organizações como a Fundação Charles Koch que, com o seu fundador, do sector das petroquímicas Charles G. Koch, tem já um historial de apoio a grupos que negam as alterações climáticas.

“Há três anos identifiquei problemas em estudos climáticos que, na minha opinião, permitiam duvidar da própria existência do aquecimento global”, escreveu Muller no New York Times, a 28 de Julho. Contudo, “no ano passado, depois de uma investigação intensa que envolveu uma dezena de cientistas, concluí que o aquecimento global é real e que as estimativas anteriores do ritmo do aumento das temperaturas estavam correctas. Vou ainda mais longe: os humanos são quase totalmente responsáveis.”

O físico explica que mudou de opinião tão subitamente depois do estudo realizado pela sua equipa sobre as temperaturas à superfície do planeta. Os resultados mostram que a temperatura média da terra aumentou 1,5ºC nos últimos 250 anos, dos quais 0,9ºC nos últimos 50 anos. “Além disso, parece provável que quase todo este aumento tenha resultado das emissões humanas de gases com efeito de estufa”, acrescentou.

Muller alega que este estudo é mais rigoroso do que os relatórios do Painel Intergovernamental das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (IPCC, sigla em inglês), considerados a referência internacional. O estudo de Berkeley teve em conta questões levantadas pelos cépticos, como a má qualidade das estações de medição das temperaturas e o efeito enganador do calor produzido pelas cidades e integrou temperaturas mais antigas à superfície da Terra do que as usadas pelo IPCC. “No nosso trabalho demonstrámos que nenhum destes potenciais problemas teve efeitos nas nossas conclusões”, acrescentou.

“Tentámos fazer corresponder os picos de aumento de temperatura a fenómenos como a actividade solar ou até mesmo à população mundial. Mas, de longe, aquilo que melhor explica as oscilações de temperatura são os registos do dióxido de carbono na atmosfera.”

Para o futuro, Muller prevê uma subida da temperatura, enquanto as emissões de dióxido de carbono continuarem a aumentar. “Espero que a análise do projecto Berkeley Earth ajude ao debate científico sobre o aquecimento global e as causas humanas”, escreveu ainda.

Ainda assim, uma cientista do projecto, Judith Curry, do Instituto de Tecnologia de Georgia, recusou ser incluída como uma das autoras deste estudo. “As conclusões são demasiado simplistas e, na minha opinião, pouco convincentes”, disse, citada pelo New York Times.

Opinião diferente tem Michael Mann, director do Centro das ciências do sistema da Terra, na Universidade da Pensilvânia. Na sua página no Facebook, Mann escreveu: “há uma certa satisfação irónica ao ver um estudo financiado pelos Koch – os maiores financiadores dos cépticos das alterações climáticas – demonstrar aquilo que os cientistas sabem com algum grau de confiança há quase duas décadas: que o globo está, de facto, a aquecer e que esse aquecimento só pode ser explicado pelo aumento das concentrações de gases com efeito de estufa, causado pelo homem”.

O estudo ainda não foi publicado em revistas científicas mas já foi submetido à revista Journal of Geophysical Research: Atmospheres.

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