Estudo conclui que barcos e golfinhos usam as mesmas áreas no Sado

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Hoje vivem no estuário do Sado 27 roazes PÚBLICO

A zona preferida dos roazes no estuário do Sado é também a zona mais usada pelas embarcações, concluiu um estudo apresentado nesta semana e que abre a porta a um reforço da fiscalização naquelas águas, para proteger os animais.

Os 27 roazes (Tursiops truncatus) do estuário do Sado convivem com ferries, rebocadores, embarcações de pesca e recreio e navios destinados à zona industrial e aos estaleiros navais. Depois de meses nas águas do estuário, uma equipa da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa concluiu recentemente que o canal Sul do estuário é a zona mais usada pelos golfinhos mas também aquela que é mais utilizada pelas embarcações.

A concentração de animais e barcos numa mesma área pode trazer graves impactos para o pequeno grupo de cetáceos, já ameaçado pela poluição e ruído subaquático. Marina Sequeira, bióloga do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB), salientou que “quando há embarcações, horas e horas, junto ao mesmo grupo de golfinhos, os animais [que se alimentam de peixes, polvos, chocos, crustáceos e moluscos] podem não comer, as fêmeas não amamentam as crias em condições e o ruído dos motores pode perturbar a comunicação entre animais e a detecção de presas”.

A responsável disse ao PÚBLICO que estas conclusões, apresentadas a 22 de Maio – Dia Internacional da Biodiversidade – podem ter um “impacto imediato no estabelecimento de medidas” para travar o declínio dos roazes do Sado, uma das cinco espécies de golfinhos de ocorrência mais comum em Portugal. “Hoje já há fiscalização mas queremos aumentá-la”, disse Marina Sequeira. “Agora temos matéria para incentivar o aumento da fiscalização à observação de golfinhos e, eventualmente se for caso disso, condicionar a velocidade da deslocação de embarcações e criar corredores para a entrada e saída do estuário”.

Em cima da mesa poderá estar a limitação do número de embarcações com licença para operar, afirmou. “Hoje não estão definidos esses limites. Mas agora temos uma ideia mais concreta para podermos estabelecê-los”, acrescentou. Quanto às embarcações particulares, será reforçada a fiscalização. “Não vamos proibir, mas garantir que as regras de observação dos golfinhos são cumpridas.”

Estudo da poluição atrasado

Este trabalho foi um dos primeiros projectos com resultados apresentados no âmbito do Plano de Acção para a Salvaguarda e Monitorização da população de Roazes do Estuário do Sado, documento publicado em Diário da República a 2 de Outubro de 2009 e que estará em vigor até 2013.

Segundo Marina Sequeira, o plano tem avançado em várias frentes, nomeadamente na monitorização contínua dos roazes, no estudo do tráfego marítimo e na integração de uma rede de arrojamento para animais vivos, integrada numa rede nacional. Esta rede “assume toda a importância porque não nos podemos dar ao luxo de perder um único animal”, disse a responsável.

Mas onde está mais atrasado é na monitorização da poluição e do habitat. Este trabalho “ainda não começou mas vamos tentar que se inicie em 2013”, acrescentou.

No Dia Internacional da Biodiversidade, os golfinhos do Sado mereceram a atenção da ministra do Ambiente. Assunção Cristas, a bordo de um galeão no Porto de Setúbal, disse que o trabalho de despoluição do Sado é fundamental para o aumento da população destes animais. “Tem havido um esforço para despoluir esta zona, mas ainda há muito a fazer”, afirmou a governante, citada pela Lusa.

O Governo tem procurado dialogar com as indústrias existentes no estuário do Sado para procurar um “equilíbrio entre as actividades económicas e o Ambiente”, garantiu a ministra. “Penso que existe vontade e envolvimento das diversas entidades que desenvolvem actividade industrial no Sado para que a coexistência com o Ambiente seja o mais harmoniosa possível”.

A população de roazes do Sado tem vindo a registar um declínio, especialmente por causa da baixa sobrevivência dos juvenis, com uma taxa de mortalidade da ordem de 13%, segundo o Plano de Acção. Estima-se que entre 10 a 15 anos, o número de animais decresça rapidamente porque a maioria dos adultos reprodutores terá atingido o limite da sua longevidade. "Após esta fase, e caso não ocorra imigração, o número de roazes residentes ficará muito reduzido e por isso, qualquer factor adicional que ocasione a morte de um ou mais animais irá acelerar o declínio da população", acrescenta o documento.

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