Milhares de cidadãos pedem referendo sobre nuclear mas Tóquio já disse que não

Foto
Manifestação na cidade de Tóquio a 11 de Fevereiro Toshifumi Kitamura/AFP

Um grupo de cidadãos de Tóquio reuniu mais de 260.000 assinaturas para a realização de um referendo local sobre a energia nuclear, mas o governador da região já disse que não tem a intenção de o fazer.

O grupo “Deixem as Pessoas Participar num Referendo sobre a Tomada de Decisões sobre a Energia Nuclear” (traduzido do japonês) diz que, de 10 de Dezembro de 2011 até 8 de Fevereiro reuniu 260.094 assinaturas, mais do que as 214.236 necessárias para a realização de um referendo, noticia o jornal Asahi Shimbun.

O grupo acredita que os habitantes locais deveriam ter uma opinião sobre a questão da energia nuclear, através da realização de referendos. Tudo começou depois do acidente na central nuclear de Fukushima, a 11 de Março do ano passado, causado pelo tsunami que se seguiu a um terramoto. A fuga de radioactividade obrigou à retirada de milhares de pessoas das proximidades da central operada pela Tepco (Tokyo Electric Power Company).

Os organizadores da campanha, liderada pelo jornalista Hajime Imai, adiantaram que outra recolha de assinaturas vai começar em Março na província de Niigata e em Abril na província de Shizuoka.

No sábado passado, o governador de Tóquio, Shintaro Ishihara, revelou que não tem qualquer intenção de realizar o referendo. Em Dezembro já tinha criticado a campanha, considerando-a “sentimentalista e histérica”. Um pedido para a realização do referendo “não pode ser apresentado. Não tenho intenção de o fazer”, disse Shintaro Ishihara, citado pelo jornal Asahi Shimbun. “Tudo não passa de sentimentalismo, uma vez que não são apresentadas alternativas”, acrescentou.

No mesmo dia, quando se assinalavam 11 meses do acidente de Fukushima, 12.000 pessoas exigiram o fim do nuclear, numa manifestação no Parque Yoyogi, em Tóquio. Semelhantes protestos aconteceram nas cidades de Joetsu (província de Niigata) e Kushiro (província de Hokkaido).

Verão sem centrais nucleares

Enquanto isso, economistas e responsáveis de fábricas estão um Verão difícil, quando o país ficar sem centrais nucleares ligadas à rede eléctrica. Antes do acidente de Fukushima, a energia nuclear era responsável por produzir cerca de 30% da electricidade no Japão.

Os 54 reactores do país têm vindo a ser encerrados por problemas ou para inspecções desde o desastre. Os únicos três ainda em funcionamento deverão encerrar no final de Abril.

Uma estimativa do Instituto japonês da Economia Energética revela que a factura de electricidade dos consumidores poderá aumentar em média 18% por causa do avolumar dos custos do reforço das centrais térmicas, para compensar a falta do nuclear. Hitoshi Suzuki, investigador daquele instituto, prevê mesmo que parte das indústrias de produção energética decida sair do Japão, por causa do aumento dos preços da electricidade.

Mas Masao Takano, da Universidade de Nagoya, não acredita na tese de que o nuclear é indispensável. “É um erro acreditar que a economia não sobreviverá sem a energia nuclear”, disse o investigador, citado pelo jornal Asahi Shimbun.

O que fazer ao solo contaminado?

Além do problema do abastecimento energético, o Japão debate-se com a falta de espaço para armazenar solo contaminado com elevados níveis de radioactividade, em resultado do acidente de Fukushima.

Na cidade de Nedo, na província de Chiba, 150 moradores reuniram-se na semana passada para discutir o problema. “Se permitirmos que o solo contaminado seja armazenado aqui, corremos o risco de outras regiões quererem trazer para cá o seu solo”, disse um morador, citado por aquele jornal.

Segundo o Governo, o processamento do solo contaminado é da responsabilidade dos municípios. Por seu lado, estes insistem que cabe ao Governo resolver o que fazer ao solo com níveis elevados de radioactividade.

De momento, várias cidades não sabem o que fazer ao solo contaminado. Por exemplo, as autoridades da cidade de Toride, na província de Chiba, estão a distribuir sacos para os seus habitantes guardarem o solo que retiram das suas propriedades.

As escolas em Tóquio também já começaram o trabalho de descontaminação mas não têm sítio para armazenar o solo. Na escola Secundária de Ginza, o solo está a ser armazenado no telhado, por falta de espaço.

Sugerir correcção
Comentar