Gigante francês da energia condenado a multa de 1,5 milhões por espiar Greenpeace

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Em 2006 a Greenpeace estava a protestar contra um novo reactor nuclear em França Christian Charisius/Reuters

A Justiça francesa condenou quinta-feira a Electricité de France (EDF) a pagar uma multa de 1,5 milhões de euros e decretou a prisão de dois funcionários por espionagem informática a computadores da organização ecologista Greenpeace.

O Tribunal de Nanterre, perto de Paris, condenou ainda a EDF a pagar à Greenpeace 500 mil euros de indemnização por danos.

O caso remonta a 2006 quando a EDF contratou a empresa de segurança Kargus Consultants para espiar membros da Greenpeace francesa que organizavam uma campanha contra um novo reactor que estava a ser construído em Flammanville, na costa da Normandia. Durante o julgamento, Thierry Lorho, director da Kargus, disse que a missão que lhe tinha sido confiada era clara – a EDF "queria entrar nos computadores da Greenpeace para antecipar as suas acções ligadas ao reactor nuclear", citou a agência AFP.

A empresa acabou por entregar à EDF um dossier sobre os ecologistas, com base em cerca de 1400 documentos roubados do computador de Yannick Jadot, na altura director de campanha na Greenpeace.

A 24 de Outubro de 2011, o procurador do Tribunal de Nanterre, Benjamin Branchet, pediu a condenação da EDF por "cumplicidade e intrusão informática fraudulenta". O responsável disse, então, ao jornal "Le Monde" que "ninguém se deve sentir autorizado a violar a lei, qualquer que seja a sua função, o seu passado ou a sua rede de influências".

A EDF alegou que apenas pediu à Kargus para vigiar os activistas mas que a empresa de segurança excedeu aquilo que lhe tinha sido pedido. No entanto, ontem, a juíza Isabelle Prevost-Desprez discordou e condenou a três anos de prisão Pascal Durieux (responsável da EDF pela segurança nuclear, em 2006) e Pierre-Paul François (segundo responsável da EDF pela segurança nuclear, em 2006). Também foram condenados à prisão Thierry Lorho, director da Kargus, (uma pena de três anos) e Alain Quiros, responsável pela informática na empresa de segurança (a uma pena de dois anos).

A BBC noticia que a EDF pretende recorrer da sentença.

Para a Greenpeace, o veredicto mostra que “a indústria nuclear não está acima da lei”. “Com as terríveis consequências do acidente nuclear em Fukushima [que ocorreu em Março no Japão], a indústria nuclear precisa ser responsabilizada pelos seus actos mais do que nunca”, escreve a organização ecologista em comunicado.

Esta é uma indústria que “precisa de recorrer a tácticas como a espionagem, manipulação da opinião pública e propaganda” porque “ela própria não acredita nos seus argumentos”, acrescentou. A questão do nuclear é um tema sensível em França, país que depende dos seus 58 reactores para produzir cerca de 80% da electricidade.

As ligações complexas entre a França e a Greenpeace remontam a 1985 quando, a 10 de Julho, os Serviços Secretos franceses afundaram o navio da organização, “Rainbow Warrior”, no porto de Auckland, Nova Zelândia. Meses mais tarde, a 3 de Novembro, dois agentes secretos franceses admitiram, no Tribunal de Auckland, culpas no naufrágio, que matou o fotógrafo português Fernando Pereira, de 35 anos. A embarcação, símbolo da organização ecologista Greenpeace e do activismo ambiental no mundo, preparava-se para protestar contra os testes nucleares no atol de Moruroa, território francês no Oceano Pacífico.

Quase 30 anos depois do naufrágio em Auckland, esta semana a Greenpeace levou o seu novo navio, o "Rainbow Warrior III", de Amesterdão para Londres, na sua viagem inaugural. Esta é a primeira embarcação que a organização constrói de raíz para defender o Ambiente. O "Rainbow Warrior II" foi doado ao Bangladesh como "barco hospital".

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