Olival com árvores centenárias e milenares ainda resiste nos arredores de Serpa

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Algumas destas oliveiras têm mais de mil anos, diz o proprietário Foto: Carlos Dias

Olivais antigos estão a desaparecer para dar lugar a novas plantações em regime intensivo. Apoios do Estado não os abrangem por não atingirem a densidade mínima por hectare.

"Dá gosto ver estas árvores com muitos séculos", diz José Pedro Fernandes de Oliveira, professor reformado e agricultor, orgulhoso do seu feito: recuperou um conjunto de oliveiras, dispersas por 15 hectares, com um diâmetro de caule ressequido que, nalguns casos, ultrapassa os 8,5 metros.

O problema de Fernandes de Oliveira é que a densidade deste olival (número de árvores por hectare) é tão pequena que não é reconhecida pela legislação em vigor para poder beneficiar dos apoios à manutenção das explorações olivícolas - isto apesar de se tratar de um olival que, "mais do que tradicional, é monumental". Sem querer especular, diz ser proprietário, no meio de centenas de árvores muito antigas, de umas sete dezenas com "muitos séculos" e de algumas com "mais de mil anos".

Com formação em Agronomia e ex-professor da Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Serpa, sempre viveu, desde que nasceu há 64 anos, ligado ao olival. Ajudou o pai a plantar oliveiras e a recuperar o património familiar de árvores seculares. "Conheço exemplares do género noutros países mediterrânicos" que são apadrinhados por pessoas amigas das oliveiras, para garantir a sua manutenção, ou então são protegidos em jardins e parques. Em Portugal, afirma, não existem estas formas de apoio, nem quaisquer outras.

A falta de protecção pública ou privada cria condições para a especulação na venda das espécies monumentais. Basta consultar a Internet para verificar a abundância da oferta de oliveiras centenárias e milenares. No Alentejo são inúmeros os vendedores deste património que está a ser sacrificado de forma galopante ao plantio de olival intensivo e superintensivo.

Fernandes de Oliveira, ao contrário, insiste em manter as suas árvores junto ao IP 8, a caminho de Vila Verde de Ficalho e a meia dúzia de quilómetros de Serpa. Para superar as dificuldades financeiras que a manutenção do histórico olival implica é forçado a vender a azeitona a uma cooperativa, perdendo-se a qualidade única da sua produção nos lotes resultantes da sua mistura com a azeitona corrente.

O ideal, explica, seria a criação de um azeite de quinta, tal como já acontece na região espanhola da Andaluzia, onde há cooperativas a embalar a produção com o rótulo de centenário ou milenário, para o colocar em nichos de mercado muito exigentes. Trata-se, afinal, de azeite proveniente de árvores que terão sido plantadas por romanos ou gregos.

"Mas eu não tenho pedalada económica" para uma iniciativa semelhante, reconhece o proprietário do olival que diz ser "provavelmente" o mais antigo do mundo, excluindo, portanto, a existência de espécies isoladas mais antigas.

Antes de iniciar o processo de recuperação das árvores seculares, Fernandes de Oliveira nunca tinha ultrapassado as 20 toneladas de azeitona numa colheita. Depois de o ter renovado - tratando as copas de maneira a ficarem mais próximas do chão, tendo em vista o seu varejamento mecânico -, "nunca mais ficaram abaixo das 30 toneladas". Em 2010 atingiu as 84 toneladas, mas as árvores "cansaram-se" com um tal volume de produção e, no ano seguinte, observou-se "um efeito depressivo" e de redução na quantidade produzida, ficando pelas 34 toneladas.

Em Serpa, diz Fernandes de Oliveira, "há muitos olivais antigos, que mereciam um pouco mais de atenção". Se não houver apoio ou não for estabelecido um programa para a sua preservação, "o mais certo é serem abandonados ou substituídos por olivais modernos", avisa, acalentando a esperança de que os seus descendentes ou futuros proprietários "não destruam" um olival que é contemporâneo ou até anterior à nacionalidade portuguesa, e que conseguiu chegar aos dias de hoje.

Notícia alterada às 10h36:

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