Clima vai ameaçar metade das espécies das áreas protegidas europeias

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As zonas montanhosas oferecem melhores condições de sobrevivência Foto: PÚBLICO/arquivo

Até 2080, 58 por cento das espécies poderão deixar de ter condições para sobreviver nas áreas protegidas europeias por causa das alterações climáticas, estima um estudo publicado na revista “Ecology Letters”, com base em projecções.

A investigação aplicou vários modelos para analisar o impacto das alterações climáticas em 75 por cento das espécies de vertebrados terrestres – 136 mamíferos, 343 aves, 42 anfíbios e 64 répteis - e dez por cento das espécies de flora (1298) da Europa, nomeadamente a área da sua distribuição geográfica potencial.

No final do século, se os modelos climáticos se vierem a verificar, mais de metade das espécies que ocorrem nas áreas protegidas europeias encontrar-se-ão numa situação de "stress" climático, explicou ao PÚBLICO Miguel Araújo, da Universidade de Évora e do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid e um dos autores da investigação. Na maioria das áreas protegidas e da Rede Natura, serão mais as espécies perdedoras do que as vencedoras.

Ainda assim, há diferenças de eficácia. “As áreas protegidas oferecem maiores garantias de sustentabilidade climática porque, primordialmente, se encontram em áreas montanhosas que servem de refúgio climático para muitas espécies”, acrescentou. Por seu lado, muitas áreas da Rede Natura 2000 “encontram-se em áreas de relevo pouco acidentado onde os impactes na biodiversidade são proporcionalmente mais elevados”. Como exemplos, o estudo refere que as áreas que oferecerão maior refúgio situam-se na Escandinávia, Grã-Bretanha e nas regiões montanhosas dos Alpes, Pirenéus e Cárpatos.

De acordo com o especialista, entre as espécies mais vulneráveis às alterações do clima estão “as espécies tolerantes a ambientes frios” e as “menos tolerantes a períodos de seca prolongada, as espécies de mobilidade reduzida, espécies especialistas no uso de determinados recursos ecológicos ou muito dependente de interacções com outras espécies, espécies com baixa fertilidade”.

Novas políticas de conservação

Por tudo isto, o estudo conclui que são precisas novas políticas de conservação, ainda que “as áreas protegidas continuem a desempenhar um papel fundamental”. As alterações climáticas obrigam as espécies a adaptar-se ou mover-se. Por isso, defendeu Miguel Araújo, “é necessário considerar a possibilidade de novas áreas não protegidas se tornarem prioritárias e requererem classificação futura”.

A curto prazo, e dependendo das espécies, será “necessário ampliar áreas protegidas existentes. Noutros criar novas áreas protegidas. Noutros ainda aumentar a permeabilidade do território para facilitar a mobilidade das espécies e finalmente, em casos extremos, será necessário adoptar medidas mais activas que poderão passar pela translocação de indivíduos de um local para outro”.

Além disso, Miguel Araújo defende a criação de um mercado de valores de biodiversidade. “Os proprietários assegurariam um determinado valor de biodiversidade nas suas propriedades e seriam remunerados por estas actividades através de mecanismos de compensação de impactes ambientais”. Isto seria “particularmente interessante se fosse implementado a nível europeu, pois permitiria aos países do Sul da Europa, que geram e gerem a maior parte da biodiversidade europeia, ser remunerados pela sua responsabilidade acrescida em matéria de biodiversidade”.

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