Japão baixou expectativas de sucesso nos primeiros dois dias da cimeira climática de Cancún

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A cimeira começou esta segunda-feira Gerardo Garcia/Reuters

Bastaram dois dias para uma sombra descer sobre a cimeira climática anual da ONU, a decorrer em Cancún desde segunda-feira. O Japão recusou prolongar Quioto, posição que surpreendeu e deixou muito preocupados os países em desenvolvimento e ambientalistas.

“O Japão não vai submeter as suas metas [de redução de emissões de gases com efeito de estufa] no âmbito do Protocolo de Quioto, sejam quais forem as condições ou circunstâncias”, declarou terça-feira à noite Jun Arrima, responsável do ministério japonês da Economia, Comércio e Indústria e delegado em Cancún, citado pelo jornal “The Guardian”.

Em entrevista à Bloomberg, Kuni Shimada, conselheiro do Ministério do Ambiente japonês, confirmou a posição. “Aconteça o que acontecer, em nenhuma circunstância aceitaremos um segundo período de compromisso” de Quioto, acrescentando que é necessário um acordo mais amplo do que Quioto, que deixa de fora os grandes poluidores.

Esta terá sido a declaração contra Quioto, o único tratado internacional vinculativo para combater as alterações climáticas, mais forte alguma vez proferida pelos maiores emissores de gases com efeito de estufa.

A adopção de um segundo período de compromisso de Quioto, que expira já em 2012, e prolongar as regras actuais seria algo possível e desejável, já que é irrealista procurar na cimeira de Cancún um sucessor do Protocolo de Quioto, explicou ao PÚBLICO recentemente Ana Rita Antunes, da Quercus. "Menos que isso seria uma falha séria no combate às alterações climáticas", disse a ambientalista.

Por enquanto ainda não se sabe se esta é uma táctica negocial do Japão ou se é uma posição formal. No último caso, poderá levar vários países em desenvolvimento a abandonar a mesa de negociações, porque Quioto é o único tratado que obriga os países desenvolvidos a reduzir as suas emissões.

Por seu lado, vários países desenvolvidos estão reticentes, para não dizer hostis, a um segundo período de compromisso de Quioto. Alegam que o tratado, assinado em 1997, apenas abrange 30 por cento das emissões totais de gases com efeito de estufa e deixa de fora os dois maiores poluidores: a China e os Estados Unidos.

“Isto é um começo muito mau para as negociações”, comentou Poul Erik Laurisden, porta-voz da organização Care International, citado pelo “The Guardian”. “Existe o perigo de outros países seguirem o exemplo do Japão e fugirem a compromissos vinculativos para reduzir as emissões”.

“A declaração do Japão não ajuda nada e muitos países estão preocupados”, disse o negociador principal da delegação brasileira, Luiz A. Figueiredo.

“Os recentes anúncios do Japão fazem pesar uma ameaça sobre estas negociações e os progressos vitais que elas precisam, absolutamente, alcançar”, estimaram os Amigos da Terra, em comunicado. A organização WWF fala em “estragos causados às negociações em curso”, a Greenpeace diz-se “decepcionada” e a Oxfam lembra que “o momento escolhido [para as declarações do Japão] é significativo”.

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