Obama elogia a sua actuação face à maré negra

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O fluxo varia entre os 12 e os 25 mil barris por dia Sean Gardner/Reuters

Ao fim de cinco semanas e seis tentativas, a BP parece ter conseguido estancar o derrame de petróleo decorrente da explosão da plataforma Deepwater Horizon, nas águas do Golfo do México, ao largo da costa do Luisiana – ontem declarado oficialmente como o maior desastre ambiental da história dos Estados Unidos.

Os especialistas da petrolífera estavam optimistas com os resultados de uma manobra designada como “top kill”, que consiste no enchimento do canal do poço de petróleo com um tipo especial de lama e cimento, de forma a conter a fuga de crude e gás natural (uma operação que não tinha ainda terminado à hora de fecho desta edição).

“Espero que ninguém esqueça: tudo o que a BP faz é ordenado por nós. A companhia está a operar sob a nossa direcção, o governo federal está a comandar a resposta desde que este desastre começou”, sublinhou ontem o Presidente Barack Obama, numa declaração ao país para demonstrar o controlo da situação e reafirmar a liderança política no meio de uma crise que está a revelar-se um duro teste para a sua Administração.

Obama regressa hoje ao Golfo para ouvir as queixas das populações afectadas pela calamidade ambiental, que já foi chamada de “oleocausto”. Ontem em Washington, o Presidente garantiu que a sua Administração não tem poupado esforços na resposta ao acidente. “Estamos a usar todos os recursos, a avaliar todas as ideias. Continuaremos a fazê-lo até que a fuga seja estancada e os danos sejam mitigados”, disse. “Aqueles que acham que nós fomos lentos não sabem os factos. Percebemos desde o primeiro dia o potencial desta crise e actuamos em conformidade”, acrescentou.

Os cientistas do US Geological Survey que estão a avaliar o derrame determinaram que entre 17 e 27 milhões de galões de petróleo (cerca de 260 mil barris) estão a poluir as águas do Golfo do México. Essa quantidade é o dobro do crude que escapou no acidente do cargueiro Exxon Valdez no Alasca, em 1989.

Segundo as estimativas governamentais, o fluxo do derrame varia entre os 12 e os 25 mil barris por dia (504 mil galões ou 1,9 milhões de litros), um valor bem superior àquele avançado inicialmente pela BP, que apontava para uma fuga de 5 mil barris por dia. “Infelizmente a BP nem sempre foi clara na informação prestada”, lamentou ontem o Presidente, que assumiu toda a responsabilidade pelos erros cometidos até agora.

A Casa Branca quer evitar a todo o custo que o desastre ambiental nas costas do Luisiana, Mississípi, Alabama e Florida se transforme numa crise política semelhante àquela que pôs em causa a Administração de George W. Bush na sequência do furacão Katrina. Com o arrastar da situação no Golfo, a imprensa norte-americana e vários responsáveis políticos têm vindo a tecer duras críticas à actuação do Presidente, destacando a sua impotência para resolver a crise.

Obama recusou comparações com o Katrina e, para já, os analistas reconhecem as diferenças entre os dois casos: o furacão de 2005 foi um acontecimento previsível e a explosão do Deepwater Horizon um acidente. Porém, as duas situações têm em comum um falhanço de planeamento, supervisão e escrutínio por parte das autoridades federais – e inevitavelmente os inquéritos abertos após o acidente terão repercussões políticas.

Uma delas foi ontem a demissão de Elizabeth Birnbaum, a responsável pelo Mineral Management Service do Departamento do Interior, que detém o pelouro da exploração petrolífera, e que tinha tomado posse há menos de um ano. A sua saída foi apresentada como voluntária, mas especulava-se que teria sido forçada pela Administração.

Sondagens publicadas ontem dão conta da impaciência e insatisfação dos americanos com a resposta à calamidade ambiental: de acordo com o USA Today/Gallup, dois terços dos inquiridos qualificam os esforços da BP como “muito pobres” e seis em dez dizem o mesmo do governo federal. O desempenho do Presidente durante a crise também não agrada a 53 por cento do público.

O problema para Obama é que a solução do problema depende largamente de factores que ele não tem maneira de controlar, desde logo o sucesso da BP em finalmente tapar o derrame – alegadamente, o Presidente explodiu numa reunião à porta fechada, exigindo saber “quando é que fecham o raio do buraco?”.

Mais calmo, Obama desabafou ontem que está “tão furioso e frustrado” quanto as populações do Golfo cujo território e modo de vida foi posto em causa pelo acidente. “A BP vai ter de pagar todas as operações para parar a fuga e mitigar as consequências. E eu vou usar toda a força do governo federal, pelo tempo que for preciso, para garantir a segurança das populações e a mitigação dos danos “, garantiu.

O governador republicano do Luisiana, Bobby Jindal, foi o primeiro a exprimir frustração com a actuação do governo federal na resposta ao desastre, lamentando a falta de coordenação entre entidades e a demora no envio e instalação de barreiras e protecção.

Mas as suas críticas não são partilhadas por todos os políticos do Golfo; o também republicano governador do estado vizinho do Mississípi, Haley Barbour, elogiou a actuação do governo como “exemplar”. “Recebemos tudo o que pedimos”, declarou.

Imediatamente após a explosão, a Administração montou uma operação de limpeza de grande escala, destacando mais de 1300 embarcações para a zona afectada e envolvendo cerca de 22 mil pessoas nos esforços.

Os republicanos estão a sentir dificuldades em explorar politicamente a crise no Golfo, não só por causa do seu vigoroso apoio à construção de mais plataformas de extracção em alto-mar, como por causa da sua responsabilidade na desregulação da indústria petrolífera.

“Eu continuo a acreditar que a produção doméstica de petróleo é importante, mas enquanto os especialistas não chegarem a conclusões, vai manter-se em vigor a moratória do licenciamento de novas plataformas”, referiu Obama. A Administração também suspendeu a atribuição de licenças para o Ártico até 2011 e cancelou as vendas de lotes no Golfo do México e na costa da Virgínia planeadas para este ano.

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