Empresas ignoraram avisos de perigo antes da explosão na plataforma petrolífera

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Os líderes das três empresas envolvidas foram ouvidos ontem e anteontem em Washington Yuri Gripas/Reuters

As empresas envolvidas na exploração petrolífera da plataforma Deepwater Horizon ignoraram os testes que indicavam falhas nos dispositivos de segurança, horas antes da explosão, segundo a investigação realizada pelo Senado norte-americano à maré negra no Golfo do México.

Quando o acidente aconteceu, a 20 de Abril, o poço petrolífero estava a ser selado porque a BP queria começar a explorar outra zona. Segundo o “The Wall Street Journal”, baseado em cem mil páginas de documentos e testemunhos obtidos no âmbito de uma investigação realizada pela Câmara dos Representantes, a fase final do processo de selagem do poço arrancou a 19 de Abril. A Halliburton injectou cimento na conduta de perfuração até ao poço, a 1500 metros de profundidade. Duas horas depois, foi injectada lama pesada para impedir que qualquer gás fosse libertado. No final, a Halliburton colocou como que uma tampa de cimento no fundo do poço.

Mas alguns dos testes realizados à pressão mostraram que nem tudo tinha corrido bem. Estes indicaram que hidrocarbonetos estavam a entrar no poço e que o sucesso da selagem era “inconclusivo” ou mesmo “não satisfatório”, disse esta segunda-feira aos investigadores James Dupree, vice-presidente da BP para o Golfo do México.

A menos de duas horas da explosão na plataforma, responsáveis da BP decidiram que se justificava a suspensão dos trabalhos, informou Henry Waxman, responsável do Comité do Comércio e Energia da Câmara dos Representantes, onde terça e quarta-feira foram ouvidos os líderes das três empresas envolvidas: BP, Transocean e Halliburton.

Depois disso terá havido “um debate interno entre os funcionários da Transocean e da BP sobre como proceder”, disse Waxman. Uma das opções seria injectar mais cimento e instalar uma nova secção da conduta de perfuração. Mas essa operação deveria demorar, pelo menos, uma semana e custar à BP entre cinco e dez milhões de dólares (3,9 e 7,9 milhões de euros). Os responsáveis decidiram, então, deixar cair esta intervenção e avançaram para a conclusão do processo. Para isso removeram a lama pesada, uma das garantias de segurança. Foi nesta altura que o gás terá começado a subir pela conduta. Mas a última linha de defesa em caso de acidente, um conjunto de válvulas designado BOP (blowout preventer) - instalado na cabeça do poço para regular a pressão e que cortaria o fluxo em caso de emergência -, não funcionou, possivelmente devido a um problema hidráulico ou porque terá ficado preso por detritos vindos do poço. O fabricante do BOP, a empresa Cameron, afirmou ao Senado que a máquina tinha uma fuga num sistema hidráulico crucial.

Henry Waxman duvida ainda da forma como a BP, proprietária do poço petrolífero, respondeu à maré negra. “A companhia disse que podia gerir um derrame de 250 mil barris por dia. Ainda assim está a lutar para enfrentar apenas entre cinco mil e 25 mil barris diários”. “Quanto mais sei sobre este acidente mais fico preocupado. Esta catástrofe parece ter sido causada por uma série calamitosa de falhas operacionais e de equipamento”, comentou Henry Waxman, segundo o qual as audições deverão continuar nas próximas semanas.

Hoje, a BP anunciou que a maré negra já lhe custou 450 milhões de dólares (cerca de 357 milhões de euros). Mais de 530 embarcações estão envolvidas nas operações de recuperação e confinamento da maré negra, enquanto mais de 120 aviões estão destacados para lançar produtos químicos dispersantes sobre a mancha negra. Até ao momento já foram recuperados 97 mil barris de petróleo, segundo a BP.

A companhia petrolífera colocou no fundo do mar uma cobertura para tapar a fuga de petróleo, substituindo uma cúpula de betão e aço que não funcionou.

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