Estão a transformar as ilhas dos Açores num santuário para aves marinhas

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O estapagado está classificado como Em Perigo Spea

As falésias rochosas da ilha do Corvo e ilhéu de Vila Franca do Campo já não têm mais espaço para as aves marinhas que aí fazem ninho. Estes espaços são o último refúgio para várias espécies que fogem dos predadores. Autoridades regionais e ornitólogos estão a dar uma ajuda oferecendo-lhes um santuário da biodiversidade.

Outrora espalhadas pelos quatro cantos da ilha do Corvo e do ilhéu de Vila Franca, a Sul de São Miguel, as aves marinhas encontram-se hoje concentradas nas falésias e nos locais mais remotos. A destruição dos ninhos, em cavidades naturais nas rochas e no solo ou em buracos escavados na terra, por predadores como o rato, o murganho e a cabra explica a fuga de cagarros (Calonectris diomedea), estapagados (Puffinus puffinus), frulhos (Puffinus assimilis) e painhos (Oceanodroma castro).

“A sobrevivência destas aves é incompatível com predadores”, explica Pedro Geraldes, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea) e coordenador do Projecto LIFE Ilhas Santuário para as Aves Marinhas. Nos últimos anos, as populações de algumas aves têm diminuído drasticamente.

Uma nova colónia para as aves

Desde 2009, a Spea, a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar, a Câmara Municipal do Corvo e a Royal Society for the Protection of Birds estão no terreno para tentar erradicar as espécies invasoras e recuperar habitats.

“Criámos 400 ninhos artificiais na ilha do Corvo [Reserva da Biosfera pela UNESCO] e no ilhéu de Vila Franca, próximos das falésias mas em zonas de terra, que já terão sido local de nidificação no passado”, acrescenta. A ideia é criar uma colónia artificial que atraia as aves para uma zona livre de predadores.

Pedro Geraldes adianta que nos 150 ninhos criados em Vila Franca “já há sinais de ocupação por parte de alguns cagarros. Mas os ovos só são postos no final de Maio”. As outras espécies “ainda não chegaram” para esta época de nidificação.

Os ninhos, câmaras subterrâneas com uma saída e equipados com sistemas de chamamento sonoro para atrair as aves, estão numa zona vedada a predadores e que vai sofrer acções de recuperação da vegetação endémica. “Será um habitat o mais natural possível”.

Corvo quer ser a primeira ilha habitada livre de predadores

Integradas nas acções do projecto – que prevê um investimento de um milhão de euros até 2012, co-financiados pela Comissão Europeia - foram ainda realizadas acções de educação ambiental, campanhas de marcação e esterilização de animais domésticos e acções ligadas à gestão e tratamento de resíduos.

Este projecto LIFE conta ainda definir um plano de erradicação das espécies predadoras. “Se o conseguirmos, o Corvo será a primeira ilha habitada do mundo com a característica de ser livre de predadores, tornando-a num exemplo internacional”, salientou o biólogo.

O projecto termina no final de 2012 e terá sequência no futuro. “É apenas o tiro de partida para instalar novas colónias que, depois, atraiam mais aves”.

“Em pleno Ano Internacional da Biodiversidade, a protecção activa das populações de aves marinhas dos Açores é um factor crucial para a valorização do nosso património natural”, considerou Frederico Cardigos, director regional do Ambiente dos Açores, defendendo a necessidade de se encontrar “uma metodologia para erradicar autênticas pragas, como os ratos”.

O Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal classifica o estapagado como Em Perigo e o cagarro, o frulho e o painho com estatuto de Vulnerável.

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