Hortas urbanas em Coimbra são cultivadas por mais de 20 "agricultores"

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A autarquia tem a intenção de expandir a experiência a outras zonas da cidade PÚBLICO (arquivo)

O ditado "Quem corre por gosto não cansa" ganha vida nas encostas do Bairro do Ingote, em Coimbra, onde duas dezenas e meia de "agricultores" cultivam diariamente as hortas urbanas, projecto camarário encarado por todos como um sucesso.

Uma encosta onde antes existia "um matagal" e se verificava o "cultivo desordenado" acolhe agora pequenas hortas tratadas com afinco e dedicação por cerca de 25 moradores dos Bairros da Rosa e do Ingote, com as vantagens económicas, ambientais e sociais a aliarem-se a benefícios do ponto de vista de uma alimentação equilibrada e do combate ao stresse e ao sedentarismo.

Desenvolvido pelo Departamento de Habitação da Câmara Municipal de Coimbra em colaboração com a Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), o projecto "Hortas do Ingote" foi iniciado no terreno em 2006 e contemplou a atribuição, em dois locais distintos desta zona, de 25 talhões, cada um com uma área aproximada de 150 metros quadrados, a moradores, muitos deles transformados em agricultores urbanos após uma vida activa exercida em áreas que nada tinham a ver com o cultivo da terra.

A maior parte das hortas deste projecto realizado em terrenos camarários situados num bairro problemático da cidade estão distribuídas, em pequenos patamares, numa encosta de onde se avistam os Hospitais da Universidade de Coimbra.

Arranjadas com primor, nelas são cultivadas couves, das mais variadas espécies, alfaces, cebolas, abóboras, alhos, favas, cenouras ou tomates, entre outros produtos, não faltando também as árvores de fruto, as ervas aromáticas, as flores ou até videiras, tudo integrado no âmbito da agricultura biológica.

O aproveitamento da água da chuva também não é esquecido, graças aos reservatórios instalados em cada um dos talhões, que dispõem também de contentores para a produção de estrume biológico, entre outras infra-estruturas.

"Não compro praticamente nada [de produtos hortícolas], quero uma couve fresca, venho aqui abaixo", explicou Eurico Breda, de 60 anos, um dos poucos agricultores urbanos do Planalto do Ingote que já tinha experiência desta actividade anteriormente, embora todos os participantes no projecto tenham recebido formação ministrada pela ESAC.

Em tempos de crise, além da poupança que representa e da vantagem de estar a consumir hortícolas tratados com produtos não agressivos, outro dos agricultores, Vítor Coelho, salientou os benefícios do projecto em termos de lazer, descontracção e convivência. "Sinto-me calmo aqui, ocupado, distraído", disse este antigo combatente na Guiné-Bissau, ao realçar que o contacto com a Natureza e com os colegas "lavradores" o ajuda a esquecer "os problemas da vida".

Ao mostrar as viçosas couves chinesas, os nabos, os brócolos, os piripiris, que se dão "muito bem" naquele terreno, ou as flores de que a esposa tanto gosta, Evaristo da Conceição, outro participante, destacou a confraternização, mas também as exigências da lida agrícola. "Foi à custa de muito trabalho, a terra era muito pobre em qualidades. Isto é essencialmente uma forma de escape. Em vez de estar em casa a ver telenovela...", comentou.

João Duarte, 70 anos, que vai ao terreno que cultiva "praticamente todos os dias", referiu igualmente o esforço ali dispendido, mas destacou as vantagens para uma alimentação saudável. "Ocupo o tempo, não gasto dinheiro na praça, nada disto tem químicos", acrescentou.

Até o farfalhudo gato Tico, gordo e bem tratado, adoptado por alguns dos agricultores e incumbido da função de caçar eventuais ratos, parece apreciar passear pelos regos e talhões, pouco incomodado pela chuva.

"O balanço é muito simples: é possível aproveitar terrenos camarários que não teriam outra utilidade, mantê-los limpos, dar-lhes uma função económica, ambiental e social útil, em que as pessoas ficam satisfeitas por estarem a cultivar alimentos, têm rendimento e tiram prazer da sua actividade", salientou o vereador com o pelouro da Habitação Jorge Gouveia Monteiro, ao anunciar a intenção da autarquia de expandir a experiência para outras zonas da cidade.

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