Exploração portuguesa na Antárctida limitada por falta de assinatura de tratado internacional

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Mendes Vítor explica que o clima é muito influenciado pelo que vem dos polos Bristish Antarctic Survey (arquivo)

O desenvolvimento de projectos de investigação portugueses na Antárctida está limitado por o Governo ainda não ter ratificado o tratado que permite a exploração científica deste continente, afirmam cientistas que coordenam o Ano Polar Internacional em Portugal.

Os países signatários do Tratado da Antárctida comprometem-se a permitir a exploração científica do continente por um período indefinido, em regime de cooperação internacional, sem reclamar partes do território.

"O tratado já foi aprovado na Assembleia da República, mas estamos à espera que seja assinado de facto, e enquanto isso estamos limitados", disse Gonçalo Vieira, do Comité Português para o Ano Polar Internacional.

"Sem a assinatura do protocolo é mais difícil fazer acordos de investigação internacionais com outros países e está limitada a nossa participação no SCAR, o organismo internacional que define a política científica para a Antárctida", acrescentou.

"Assinar o tratado é também uma garantia de protecção ambiental, é não deixar que se comece a explorar a Antárctida como se fez no Árctico, que é hoje objecto de exploração intensiva por parte de alguns países interessados nos seus recursos naturais", realçou, por seu lado, Mendes Vítor, presidente do Comité Português para o Ano Polar Internacional.

Vários países estão a virar-se para a exploração da Antárctida com interesses variados, nomeadamente no conhecimento das suas estruturas geológicas, a sua passagem por vários períodos climáticos e as alterações que sofreram ao longo dos tempos.

"Sobretudo a ciência ambiental recebe aí um impacto novo, que é saber como funcionou o sistema climático no passado, porque os registos que estão nos sedimentos da Antárctida não estão perturbados e podem contribuir para o conhecimento da evolução de toda a estrutura climática planetária", considera Mendes Vítor.

"Sabemos hoje que o clima é muito influenciado pelo que vem dos pólos, especialmente a passagem das correntes polares do Sul que vão até às latitudes do Norte influenciando todo o movimento oceanográfico e consequentemente o atmosférico", realça.

O Ano Polar Internacional é um programa científico que visa a promoção e divulgação do conhecimento sobre as regiões polares permitido pelas novas capacidades tecnológicas, no qual Portugal participa pela primeira vez.

No âmbito da iniciativa estão a ser apoiados cinco projectos de investigação realizados por portugueses e estão ainda previstas bolsas de investigação e a criação de um portal polar a permitir acesso a uma base de dados que possibilitará aceder a informação sobre os pólos.

Programa Latitude 60!

O programa do Ano Polar Português inclui ainda o projecto Latitude 60!, que decorrerá até Março de 2009.


Trata-se de um dos maiores projectos apoiados no país pela Fundação Ciência Viva, abrangendo quase 200 escolas, com o objectivo de ensinar às crianças o que se passa nos pólos, os hábitos dos povos que os habitam e a sua influência no resto do mundo.

No âmbito do Latitude 60!, sete alunos do 12.º ano e "caloiros" dos cursos de Biologia, Matemática e Medicina Veterinária portugueses vão fazer a passagem de ano na Antárctida, integrados na expedição canadiana 'Students on Ice'. Estes alunos foram os autores dos projectos vencedores no concurso nacional “À Descoberta das Regiões Polares”.

Na expedição, juntamente com outros 57 estudantes estrangeiros, chegarão perto do Círculo Polar Antárctico e visitarão diversas ilhas ao largo da Península Antárctida, uma das áreas mais afectadas pelas alterações climáticas.

A bordo, os jovens terão várias actividades, "incluindo palestras dadas pelos cientistas polares, idas regulares ao continente para estudar a fauna e a flora, e visitas a bases antárcticas".

"Para além de ficarem a conhecer a investigação científica em curso, os estudantes vão ter também a oportunidade de realizar trabalho científico, como por exemplo medir os índices de poluição em amostras de gelo", revela a organização.

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